PRIMEIRA INFÂNCIA
"Um menino nasceu - o mundo tornou a começar!"
Guimarães Rosa
A Primeira Infância, que vai dos 0 aos 6 anos de idade, é a grande janela de aprendizagem do ser humano. Nessa fase, uma criança bem estimulada pode estabelecer até 700 novas conexões neurais por segundo, quase o dobro do que irá conseguir no restante de sua vida.Por isso, especialistas no assunto, como o economista e Nobel de Economia (2.000) James Heckman, afirmam que o investimento nessa fatia da população pode garantir um incremento de até 60% à renda do país, além de reduzir problemas sociais como baixa escolaridade, violência e mortalidade infantil.
"Investir em crianças novas em situação de desvantagem promove justiça e equidade social e, ao mesmo tempo, promove produtividade na economia e na sociedade como um todo" (Mary Young em "Porque investir na Primeira Infância, citando Heckman)
Heckman, criou métodos de estudo que correlacionam e comprovam que o investimento financeiro realizado na primeira infância resulta em um impacto positivo e melhora significativamente a vida das crianças até a idade adulta: a cada um dólar investido nos pequenos, a sociedade tem um retorno anual de mais de 14 centavos durante toda a vida.
E não é só. O devido cuidado para com a alimentação e saúde da mãe gestante, bem como a devida proteção a todos os cuidadores, também garantem a base para o desenvolvimento físico, motor, intelectual e socioemocional das crianças.
São pesquisas de diversas áreas do conhecimento que atestam a importância do cuidado desde a gestação até a completa formação da criança no período chamado de primeira infância. Seja na neurobiologia, na pedagogia, na sociologia, ou ainda na economia, provado está que investir na primeira infância é criar bases sólidas de um desenvolvimento social sustentável necessário a uma Sociedade Equitativa.
Mas os investimentos têm que ser consistentes e virem estruturados em políticas públicas abrangentes que não olhem os problemas de forma isolada, e sim considerando a integralidade da criança. A abordagem intersetorial, o planejamento e a gestão coordenados e que sejam, ao mesmo tempo, flexíveis para abarcar toda a diversidade de contextos, todas as necessidades, saberes e culturas das famílias é um dos grandes desafios para uma execução política eficaz - que ainda exige uma avaliação continuada com a adequação dos recursos a cada etapa do caminho.
Muito já se avançou em termos de políticas, legislações e normas para a primeira infância. Desde a Convenção sobre os Direitos das Crianças aprovada em 1989, passando pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que focaram o período de 2000 a 2015, até a atual Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas), pode-se dizer que a primeira infância ganhou os holofotes e se tornou a estratégia mais contundente de investimento integral para a luta contra a pobreza e para as mudanças necessárias no desenvolvimento social.
"As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças"
Manoel de Barros
São Paulo já possui um bem elaborado Plano Municipal pela Primeira Infância, cujos princípios e diretrizes estão alinhados com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 acima citada e se baseiam em assegurar os direitos e o desenvolvimento integral das crianças de 0 a 6 anos, direitos estes já previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente e demais normas legais.
Assim, não precisamos inventar a roda. Precisamos fiscalizar e fazer cumprir as metas e estratégias desse plano. Precisamos garantir que as políticas públicas da cidade estejam em acordo e abranjam todos os seus eixos estratégicos. Que nenhuma crianças seja deixada para trás. Que todas tenham assegurado os seus direitos.
Só assim as metas já estipuladas de Redução das Desigualdades; Paz, Justiça e Instituições eficazes; Educação de Qualidade; Igualdade de Gênero; Erradicação da Pobreza; Saúde e Bem Estar; Fome Zero e Agricultura Sustentável, culminarão com o desenvolvimento da Cidades do Afeto e do Cuidado que queremos.
Olhemos principalmente com muita atenção para a educação integral pública e de qualidade. Aquela inspirada em Paulo Freire, libertadora, que cria possibilidades e que prepara pessoas para transformar o mundo.